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Braithwaite em sua apresentação no Barcelona (Foto: Divulgação) |
De todos os gigantes europeus, talvez o Barcelona é que tenha feito mais contratações questionáveis. Nomes como os dos brasileiros Fabio Rochemback, Douglas e Keirrison são alguns deles. Estrangeiros de qualidade duvidosa como Chygrynskiy, Alex Song e Kevin-Prince Boateng também estão neste seleto grupo. Mas talvez o mais aleatório, que tenha custado um bom dinheiro aos cofres Blaugranas e chegou em um momento de desespero do clube tenha sido o de Martin Braithwaite.
Mas antes de entendermos como o dinamarquês desembarcou em
um dos principais clubes do futebol mundial, vamos relembrar a carreira do
jogador e o contexto que o fez chegar até o Barcelona.
Martin Braithwaite nasceu em Esbjerg, na Dinamarca e tem
origem guianense. Começou sua carreira no time de sua cidade natal, o Esbjerg,
e se profissionalizou em 2009. Curiosamente, sua primeira função era como um
meio-campista e só em 2012, passou a atuar como atacante. Mesmo sendo jovem,
era um dos protagonistas da equipe, sendo destaque no título da Copa da
Dinamarca da temporada 12/13, anotando dois gols na semifinal, diante do
Brondby. Inclusive, 2013 foi o ano que marcou sua estreia na seleção principal
da Dinamarca.
Com 23 anos, passou a atrair o interesse dos principais
centros do futebol europeu. Auxerre, Rennes, Celtic e Hull City foram só alguns
dos times que monitoraram a situação do atacante. Antes de se despedir do
Esbjerg, chegou a fazer os primeiros quatro jogos da equipe no Campeonato
Dinamarquês, onde conseguiu colaborar com três bolas na rede. Pelo EfB, foram
97 jogos e 19 gols.
Por 2 milhões de euros, acertou com o Toulouse no meio de
2013. Foram quatro temporadas, onde teve seus melhores números na carreira, com
40 gols anotados. Alguns momentos de destaque em solo francês, foram em 2016,
com dois gols no Derby de la Garone, diante do Bordeaux, e outros dois
tentos contra o Mônaco, que viria a ser o campeão da Ligue 1.
Aos 27 anos, partiu para a Inglaterra defender o
Middlesbrough em 2017, que desembolsou 1,3 milhões de euros pela sua
contratação. Por mais que tenha feito seis gols na primeira metade da
temporada, foi emprestado ao Bordeaux, onde marcou quatro vezes, inclusive, com
dois sobre o seu ex-time. De volta ao Boro, o dinamarquês queria deixar o clube
em definitivo na janela de verão de 2018, mas foi impedido pelo treinador Tony
Pullis. Foram mais seis meses, com três gols marcados, até ser novamente
emprestado, agora para o Leganés, da Espanha.
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Em ação pelo Leganés (Foto: Divulgação) |
Chegou ao clube espanhol em janeiro de 2019, com um contrato curto de empréstimo, até o final da temporada. Mesmo recém chegado, o atacante se firmou rapidamente como titular e seus primeiros gols, foram contra Real Madrid e Barcelona. Também teve grande desempenho diante do Sevilla, onde fez um gol e deu duas assistências, em jogo que o Leganés venceu por 3 a 0 no Ramón Sánchez Pizjuán. Cotado ao rebaixamento, os Pepineros acabaram conseguindo uma campanha segura em La Liga, terminando na 13° posição, com Braithwaite contribuindo com cinco gols e cinco assistências.
Devido ao bom desempenho, o Leganés desembolsou 5 milhões de
euros para manter o dinamarquês em definitivo no seu elenco – sendo a segunda
contratação mais cara da história do clube. E o atacante continuou apresentando
bom desempenho. Em 27 jogos, foram oito gols e duas assistências, até que o
Barcelona apareceu na história para contrata-lo em 2020.
Era fevereiro, ou seja, período fora da janela de
transferência. Ousmane Dembélé sofreu uma grave lesão e perderia o restante da temporada,
além de Suárez, que também estava afastado. Com isso, o Barcelona se aproveitou
de uma “brecha” no regulamento de La Liga. Nela, é permitida que quando um
jogador se lesiona por um período superior ao de cinco meses, o clube pode
contratar um substituto que esteja livre no mercado ou pague a multa rescisória
de um atleta que atue no futebol espanhol, mesmo fora do período de
transferências.
Após médicos independentes analisarem a situação de Dembélé
e constatarem a grave lesão, os catalães receberam o sinal verde da Federação
Espanhola para buscar um substituto para o francês.
Com isso, o Barça passou a estudar várias alternativas no
mercado local e os seguintes nomes foram analisados: Willian José (Real
Sociedad), Lucas Pérez (Alavés), Ángel Rodríguez (Getafe), Loren Morón (Betis),
Luís Suárez (Zaragoza) e Martin Braithwaite (Leganés).
Braithwaite acabou sendo o escolhido, com o Barcelona
pagando 18 milhões de euros pela sua contratação, que assinou contrato até
junho de 2024, com uma multa rescisória estipulada em 300 milhões de euros (!).
A venda do dinamarquês gerou ira por parte do presidente do
Leganés, que criticou o regulamento de La Liga, onde o clube perdeu o seu
principal jogador e não foi autorizado a buscar uma reposição – vale destacar
que após esse caso, a Federação Espanhola, a pedido da FIFA, eliminou a tal
“brecha” de seu regulamento. Sem o atacante, o time acabou sucumbindo e foi
rebaixado ao final da temporada.
E se o presidente do Leganés estava irritado por ter perdido
o principal nome de seu ataque, a torcida do Barcelona era totalmente contra a
vinda do dinamarquês. O fato de ser um jogador de 29 anos, com passagens apenas
por clubes pequenos e ser contratado por um valor consideravelmente alto,
explicam a fúria dos fãs. E, convenhamos, que em sua apresentação no Camp Nou,
o atacante deu brecha aos críticos.
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Uma imagem que Braithwaite guardará para sempre (Foto: Divulgação) |
Usando a camisa de número 19, o dinamarquês já entrou em campo dois dias depois de sua apresentação, participando por 18 minutos da goleada de 5 a 0 do Barça sobre o Eibar. Seu primeiro gol saiu diante do Mallorca, em jogo que os catalães venceram por 4 a 0. Foram 11 partidas e apenas um tento, sendo que começou como titular quatro vezes e só em uma completou os 90 minutos em campo.
Com a saída de Luís Suárez, Braithwaite assumiu a camisa 9
do Barcelona a partir da temporada 20/21. Podemos dizer que uma das suas
principais partidas com a camisa do clube foi diante do Dinamo Kiev, pela Liga
dos Campeões, que marcou duas vezes e deu uma assistência na tranquila vitória
de 4 a 0 sobre os ucranianos. Também pela competição continental, marcou contra
o Ferencaváros. Outro gol importante foi na semifinal da Copa do Rey, em que,
na prorrogação, fez o tento que colocou os catalães na decisão. Ao todo, foram
41 jogos, com sete gols e três assistências.
A temporada 21/22 era um marco na história do Barcelona, já
que seria a primeira sem Messi no clube, além dos diversos problemas
financeiros que assolam a equipe até hoje. Por conta disso, os catalães estavam
longe de ter um elenco competitivo, que resultou em uma eliminação ainda na
fase de grupos da Liga dos Campeões e, posteriormente, uma queda no mata-mata
da Liga Europa. Ainda assim, depois da chegada de Xavi, o ídolo do Barça ajudou
com um segundo lugar em La Liga.
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Braithwaite comemora seu último gol pelo Barça (Foto: Divulgação) |
Essa, que também viria a ser a temporada derradeira de Braithwaite com a camisa do Barcelona, em que pouquíssimo entrou em campo. Agora usando a 12, o dinamarquês foi o destaque na abertura de La Liga, contra a Real Sociedad, com dois gols e uma assistência – que foram seus últimos pelo clube. Jogou mais três partidas até sofrer uma lesão no joelho e ficar 143 dias afastado. Só reapareceu em março, quando atuou por dez minutos diante do Osasuna, sendo o seu último jogo no clube.
O jogador chegou a se reapresentar com elenco para 22/23,
onde levou uma sonora vaia quando foi chamado a entrar em campo. Depois disso,
o Barça tentou se livrar de todo jeito do dinamarquês, que ainda queria cumprir
os dois anos restantes de seu contrato, enquanto o clube, buscava uma rescisão
unilateral, em que não precisaria pagar nada ao jogador.
Por mais que o camisa 12 desejasse brigar por posição no
ataque catalão, ele não estava nos planos de Xavi, que até elogiou o
profissionalismo do jogador, mas não contava com o futebol dele para a
temporada. No final das contas, Braithwaite e Barcelona chegaram em um acordo
para a rescisão contratual no dia primeiro de setembro.
Durante sua estadia no Barcelona, foram 57 jogos, com dez
gols marcados e quatro assistências.
Após deixar o clube, o atacante esbanjou confiança em uma
entrevista, dizendo que provou ter nível para atuar em um grande time. Para
ele, uma mudança negativa foi a saída de Ronald Koeman e a chegada de Xavi no
comando técnico, que diminuiu consideravelmente seu tempo de jogo.
- Não tenho nada negativo sobre o meu tempo no Barcelona.
Acho que refutei muitos críticos. Fui o artilheiro da temporada passada antes
de me lesionar. Mas houve uma mudança de treinador, ele queria outra coisa e
isso faz parte do futebol. Mas mostrei que tenho nível para jogar no Barcelona.
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Agora, o dinamarquês defende o Espanyol (Foto: Divulgação) |
Os Periquitos ainda tentaram uma troca com Kike García, do Osasuna, além de negociações com Lens e Metz que não foram para a frente. Apesar de tudo, Braithwaite permaneceu no Espanyol, onde tem sido um dos destaques do time, que está vivo na luta por um acesso à La Liga.