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Como a quase falência do Borussia Dortmund criou uma das maiores rivalidades da Alemanha

 

(Foto: UEFA)

Borussia Dortmund e Bayern de Munique protagonizam hoje um dos maiores clássicos da Alemanha, além de terem feito a decisão da Liga dos Campeões na temporada 12/13, que terminou com os bávaros levantando a orelhuda. Porém, o que talvez poucos saibam, é que no início dos anos 2000, a equipe de Dortmund viveu grave crise financeira, ficando perto da falência e, se não fosse a ajuda do Bayern, o BVB poderia até ter fechado as portas.

A ganância

Para entendermos como o Borussia Dortmund chegou nesse ponto, precisamos voltar ao ano de 1997, quando o clube conquistou sua única Liga dos Campeões. Na ocasião, dirigentes apostaram em contratações caras e mediáticas, além de altos salários. Esperando repetir o sucesso, a fórmula foi mantida nos anos seguintes. Por exemplo, em 2001, o BVB desembolsou 25 milhões de euros para contratar o brasileiro Amoroso, que estava no Parma.

O clube até conquistou a Bundesliga de 01/02, em uma campanha épica diante do Bayer Leverkusen, faturou o título por um ponto. Só que tantos erros administrativos, cobraram o seu preço. O BVB foi assolado por uma grave crise financeira, tendo suas receitas bloqueadas e o Westfalenstadion hipotecado. Para amenizar o prejuízo, vendeu os “naming rights” do estádio para a Signal Iduna, uma companhia de seguros.

Além dos altos investimentos, dirigentes do Dortmund quiseram inovar. Foi o primeiro time alemão a entrar na bolsa de valores de Frankfurt. Inicialmente, o clube captou 130 milhões de euros no mercado financeiro, só que a dívida estava avaliada em mais de 180 milhões de euros, sendo que no ano anterior, já havia tido um prejuízo de 73 milhões de euros. Especialistas no assunto, alegaram que o BVB queimou capital e deveria ter retirado suas ações da bolsa. Também houve uma tentativa - frustrada - de criar sua própria marca de material esportivos. 

Para se ter uma noção como o investimento na bolsa de valores foi um erro gigante. No lançamento, era possível comprar uma ação por 11 euros em 2000. Com a desvalorização, nos anos seguintes, as ações passaram a custar 1,90 euro. Ou seja, uma queda superior a 80%.

Em total implosão, o presidente Gerd Niebaum renunciou ao cargo em novembro de 2004 – ele presidia o clube desde 1986. Na tentativa desesperada de salvar a equipe, houveram conversas com o Banco do Estado da Renânia do Norte-Vestfália e o grupo britânico Schlechter, para que pudessem fazer algum investimento. Tudo em vão. 

Reconstrução e volta aos títulos

(Foto: Kirchner Media)

Percebendo que o rival passava por um momento delicado, o Bayern de Munique, uma referência em termos de gestão na Europa, desembolsou 2 milhões de euros para ajudar o Dortmund em 2003.

Quem começou a colocar ordem na casa foi Hans-Joachim Watzke, que assumiu como CEO, e Michael Zork, novo diretor esportivo, foram os pilares para a reconstrução do clube. Formado em Administração pela Universidade de Paderborn, Watzke é empresário e dono da WATEX, uma empresa que fabrica roupas de segurança. Ele queria gerir o clube com uma visão empresarial e, para ajudar no processo, foi contratada uma empresa de consultoria, a Roland Berger que atuaria em quatro vertentes: estratégico, financeiro, gestão e eficiência operacional.

Foi pego um empréstimo de 125 milhões de euros em um banco americano para comprar o estádio de volta e apostar alto no desenvolvimento da base. Para cortar gastos, o time passou a viajar de ônibus para os jogos fora de casa. Dentro dos gramados, os dirigentes queriam um time vertical, que pressionasse o adversário e, na sequência, seriam contratados jogadores que se encaixassem nesse estilo de jogo. 

Sobre a doação do Bayern de Munique, Watzke declarou que a quantia pouco ajudou, já que a situação do clube era extremamente complicada. Inclusive, um dos seus primeiros atos quando assumiu o cargo, foi devolver o dinheiro para os bávaros.

"Teve um empréstimo de 2 milhões de euros do Bayern, mas não por minha decisão. Em 2003, o Bayern emprestou o dinheiro para os meus antecessores e, mesmo com aqueles 2 milhões, o Borussia quase faliu em 2005. Eu preferia ter ficado implorando do que ter pego dinheiro do Bayern", comentou o mandatário.

A temporada 05/06, a primeira da nova gestão, foi de transição. Na Bundesliga, terminou em sétimo lugar. O mais importante foi que depois de muito tempo, o clube apresentou lucro, e isso se deve as vendas de Tomas Rosicky ao Arsenal e David Odonkor para o Bétis.

Se anteriormente a equipe teve uma campanha segura no meio da tabela, o mesmo não pode-se dizer da temporada 06/07, em que correu sérios riscos de rebaixamento, se salvando por apenas um ponto. Na sequência, terminou em 13° lugar e chegou na final da Copa da Alemanha, sendo superado pelo Bayern de Munique, na prorrogação, por 2 a 1. Mas tudo iria mudar a partir de maio de 2008, após um certo Jurgen Klopp assumir o comando técnico do Borussia Dortmund.

A criatividade das contratações era algo que chamava a atenção. Por 350 mil euros, vindo do Cerezo Osaka, o clube contratou Shinji Kagawa. Por 4,75 milhões de euros, veio Robert Lewandowski, do Lech Pozman. Das categorias de base, Mario Gotze foi alçado à equipe principal.

Por mais que fossem contratações baratas, com jogadores de pouco renome, os resultados começaram a aparecer. Na temporada 11/12 veio a dobradinha, com título da Bundesliga e uma goleada de 5 a 2 sobre o Bayern de Munique na decisão da Copa da Alemanha. As conquistas fizeram o BVB ser o quarto time a conseguir tal feito no país. Destaque para o grande ano de Lewandowski, que já mostrava faro de gol, ao balançar as redes 30 vezes.   

A rivalidade com o Bayern de Munique

(Foto: AP)

Naquele momento, Borussia Dortmund e Bayern de Munique já formavam o maior clássico do país. Só que na temporada 12/13, a rivalidade alcançou um novo patamar. Além de disputar os principais títulos no país, os clubes fizeram a final da Liga dos Campeões naquela oportunidade. Se não bastasse a tensão pelo confronto, houve uma grande polêmica que antecedeu a decisão. Em maio, Mario Gotze foi anunciado como novo reforço do Bayern, por 37 milhões de euros.

A notícia caiu como uma bomba no Signal Iduna Park. Klopp referiu-se ao Bayern como os “vilões dos filmes de James Bond”, que querem roubar seus principais jogadores. O treinador ainda explicou como se sentiu ao receber a notícia Michael Zork.

“Foi como um ataque no coração. Recebi a notícia no CT no dia seguinte à vitória sobre o Málaga (quartas de final da Liga dos Campeões). A verdade é que eu não consegui dormir naquela noite. Liguei para alguns jogadores, pois sabia que eles ficariam afetados, afinal, eles pensariam que não eram bons o bastante e queriam vencer juntos. Eu sei que será difícil achar alguém para o substitui-lo no próximo ano.”

O camisa 10 ficou fora da decisão, já que não se recuperou de uma lesão na coxa. Em um Wembley com 86.298 torcedores, o Bayern de Munique levou a melhor sobre o Dortmund e venceu por 2 a 1 com gols de Mandzukic e Robben, enquanto Gundogan marcou para os auri-negros.

Ter tirado Gotze do BVB era apenas o começo. Em 2014, o Bayern aproveitou o final de contrato e, de graça, trouxe Lewandowski. Dois anos depois, Hummels partiu para a Baviera por 35 milhões de euros – o zagueiro era cria do Bayern, porém, nunca teve espaço na equipe principal.

Enfraquecido pelo rival, o Dortmund não conseguiu mais disputar o título da Bundesliga. Inclusive, durante a temporada 14/15, o clube ficou boa parte do campeonato na parte de baixo da tabela, ocupando a zona de rebaixamento até a 20° rodada. Uma reação no segundo turno, fez o time subir na classificação e terminar na sétima posição. Ao final da campanha, Jurgen Klopp optou por deixar o BVB, sendo substituído por Thomas Tuchel, que ainda conseguiu ganhar a Copa da Alemanha em 16/17.

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