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Östersunds FK: o time sueco que saiu da quarta divisão, disputou uma Liga Europa e hoje, caiu no esquecimento

 

A Copa da Suécia é o principal título do OFK (Foto: Divulgação)

O futebol sueco está longe de ser um dos campeonatos mais famosos da Europa. Quando ouvimos falar de algum time do país, lembramos do Malmo, por ser o maior campeão da liga e suas constantes participações na Liga dos Campeões, inclusive, tendo um vice-campeonato em 1979, quando foi derrotado pelo Nottingham Forest.

Mas se o futebol sueco não tem conseguido grande destaque no cenário europeu, na temporada 17/18, o Östersunds, um time desconhecido para a maioria do público, surpreendeu. E a surpresa não foi só a nível nacional, quando conquistou a Copa da Suécia em 2017, mas sim na Liga Europa, quando passou na fase de grupos e chegou aos 16 avos, sendo eliminado pelo Arsenal.

Ao mesmo tempo que o clube teve uma ascensão meteórica, o seu esquecimento foi tão rápido quanto. Problemas administrativos fizeram com que a equipe passasse a lutar pela sobrevivência, até ser rebaixada para a segunda divisão. E no texto de hoje, vocês iram entender um pouco mais sobre a ascensão e queda do Östersunds.

A fundação do Östersunds FK (OFK) ocorreu em 1996, quando três clubes da cidade decidiram unir-se com o objetivo de chegar nas principais divisões do campeonato sueco. Disputando a quarta divisão inicialmente, o clube galgou um longo caminho para chegar até a elite. Foram 18 anos nas ligas menores, até que em 2015, veio o vice-campeonato da Superettan, que garantiu o sonhado acesso para a Allsvenskan. 

Atletas conversam antes de uma partida em 2015 (Foto: Divulgação)

Mas para entender a ascensão do Östersunds, que estava na quarta divisão em 2011, até a chegada na Allsvensjan em 2015, precisamos voltar para o ano de 2007. O então diretor de futebol Daniel Kindberg, era amigo de Roberto Martínez, na época, treinador do Swansea City. Houve uma parceria entre os clubes, em que jogadores do OFK iriam ser emprestados para o time galês. Inclusive, o Swansea viajou para a Suécia e participou da inauguração da Jämtkraft Arena.

Depois de um hiato, Kindberg retornou ao cargo de diretor de futebol em 2011. O dirigente destacou que com o clube na quarta divisão, o elenco era curto, não havia staff técnico e métodos de treinos convincentes. Porém, com o apoio financeiro de empresas locais e mais investimentos, foi possível melhorar todos os setores citados e contratar um técnico: Graham Potter, que estava trabalhando em uma universidade inglesa, foi escolhido para ser o comandante do OFK. O resultado foi imediato, em sequência, o clube venceu a 3° e 4° divisão, chegando até a Superettan em 2013.

Em entrevista, Graham Potter destacou todo o processo para montar o elenco, dizendo que em uma divisão tão baixa, com um time sem tradição, você precisa ser criativo. Aproveitar aqueles jogadores que foram descartados por não servirem no futebol convencional.

Uma das diferenças do Östersunds era a proximidade do clube com a comunidade. Jogadores e funcionários eram constantemente desafiados a saírem da zona de conforto, por meio da Academia de Cultura, em que todos participavam de uma oficina anual de arte, seja para praticar canto, dança ou poesia. O objetivo era unir o elenco e criar um espirito de luta e bravura.

Jogadores comemoram o acesso para a elite (Foto: Divulgação)

Foram três anos na Superettan, até que em 2015, o segundo lugar garantiu o acesso para a elite do futebol sueco. A primeira temporada teve um saldo positivo, terminando na oitava posição. 

Mas a grande conquista veio na temporada 2017. O OFK chegou na decisão da Copa da Suécia, encarando uma das potencias do país, o Norrköping. Só que o Östersunds não se intimidou e ganhou de goleada: 4 a 1. O título deu o direito do clube disputar a edição de 17/18 da Liga Europa. No campeonato, mais uma campanha sólida, alcançando o sexto lugar.

O sonho europeu começou encarando um campeão do torneio, o Galatasaray. No primeiro jogo, na Suécia, vitória do time da casa por 2 a 0. Já na Turquia, empate em 1 a 1. Na sequência, o adversário era o Fola Esch, de Luxemburgo. No placar agregado, vitória de 3 a 1 para os suecos. No playoff final, um épico contra o PAOK. Os gregos venceram em casa por 3 a 1. Mas em seus domínios, o OFK conseguiu um triunfo de 2 a 0. A incrível virada garantiu uma vaga na fase de grupos da segunda competição mais importante da Europa.

Com a vaga garantida para a primeira fase, o Östersunds estava no grupo J, ao lado de Athletic Bilbão, Hertha Berlin e Zorya Luhansk.

Mesmo em um grupo difícil, com dois times de países tradicionais, os suecos fizeram bonito e terminaram na segunda posição, com os mesmos 11 pontos do líder Athletic Bilbão. Inclusive, a única derrota, foi exatamente para os espanhóis. Com esse feito, o OFK tornou-se o primeiro clube do país a disputar um mata-mata da Liga Europa.

Comemora seu gol no Emirates (Foto: Divulgação)

Na fase de 16 avos, era hora de encarar o Arsenal. Adversário que era considerado um dos favoritos ao título da competição. No primeiro jogo, em território sueco, vitória dos visitantes por 3 a 0. No Emirates, o Östersunds até venceu por 2 a 1 o time misto dos londrinos, mas no placar agregado, ficou 4 a 2 para os Gunners. Apesar da campanha histórica no cenário europeu, na liga, o OFK terminou mais uma vez na sexta posição, além de amargar uma eliminação em casa para o Malmo, na semifinal da Copa da Suécia.

Mas como aquele velho ditado diz: “tudo que é bom, dura pouco” e os problemas começaram a aparecer. Em 2019, Daniel Kindberg foi condenado por fraude fiscal grave. O dirigente apresentou faturas falsas de várias empresas que tinham ligação com o clube, além de sua própria empresa, a Östersundshem, que era a patrocinadora principal do Östersunds. A justiça o considerou culpado e o sentenciou a três anos de prisão.

Meses depois, Graham Potter deixou o clube após oito anos para assumir o comando do Swansea City. Para seu lugar, veio outro treinador inglês: Ian Burchnall. 

Vale destacar ainda, que durante a temporada 2018, um dos destaques da equipe, o iraniano Saman Ghoddos se envolveu em uma polêmica. O OFK havia vendido o jogador para o Huesca, recém-promovido à La Liga, mas ele acabou optando por se transferir ao Amiens, da França. A Corte Arbitral do Esporte (CAS), considerou ambos culpados pela quebra de contrato com o time espanhol, mas se livraram de pagar uma multa e Ghoddos levou uma suspenção de quatro meses, enquanto o Östersunds foi proibido de contratar jogadores por duas janelas de transferências. 

Só que a partir de 2019, a fonte secou. Sem dinheiro e com uma grande dívida, os torcedores fizeram uma vaquinha para que o clube seguisse existindo. Como forma de gratidão, até Graham Potter contribuiu na arrecadação de fundos, que permitiu o OFK manter suas atividades. Apesar do cenário de crise, a equipe teve um início de temporada impressionante, perdendo apenas uma vez nos primeiros oito jogos. Só que nas 11 partidas finais, o desempenho caiu, vencendo uma vez, mas ainda assim, o clube terminou na 12° posição.

Em entrevista à BBC Sports, Buchnall disse que a situação do Östersunds era crítica e que muitas coisas estavam acontecendo nos bastidores. Ele também comentou o fato do time ser notícia no país, mas pelo que acontecia fora dos gramados.

O treinador destacou a arrancada inicial da equipe, que havia sido a melhor do OFK desde que disputava a primeira divisão, mas que todos os problemas extracampo haviam afetado seus jogadores. Alegou que os problemas financeiros, além da punição imposta pelo CAS, precisou escalar muitos jovens, sendo a equipe mais jovem da Liga Sueca em 20 anos.

Após sete jogos e duas vitórias na temporada 2020, Burchnall deixou o clube e retornou à Inglaterra. Em seu lugar, foi escolhido Amir Azrafshan, de apenas 32 anos. Com o jovem comandante, o time reagiu e terminou em 13°, o primeiro fora da zona de playoff de descenso.

Jogo em que confirmou o rebaixamento do OFK (Foto: Divulgação)

O sinal de alerta já estava ligado desde o ano anterior. A temporada 2021 começou de maneira oscilante, só que a coisa desandou a partir da 13° rodada, em que o clube foi para a lanterna da liga, e de lá não saiu mais. Nem a troca de comando, com a saída de Azrafshan e a entrada de Per Joar Hansen foi o suficiente para o Östersunds evitar a queda, com apenas 14 pontos somados – ficando 20 pontos do Degefors, 13° colocado, o primeiro time fora da zona rebaixamento. De maneira melancólica, após seis anos, chegou o fim da linha para o OFK na primeira divisão.

Novamente disputando a Superettan, o clube trouxe Magnus Powell para o comando técnico. Em 2022, a equipe lutou para não ser rebaixada, terminando o campeonato em 14° lugar, precisando disputar um playoff contra o Falkenbergs, segundo colocado da Ettan Sodra – uma das ligas que compõem a terceira divisão. No agregado, o OFK venceu por 2 a 1.    

Para a temporada 2023, Magnus Powell permaneceu como técnico, enquanto a equipe fez uma campanha muito mais segura na segundona, terminando na quinta posição. No início do campeonato, o OFK chegou ocupar a quarta colocação, mas com muitos empates (12 no total), ficou distante da luta pelo acesso.

Na Copa da Suécia, a equipe passou longe de ter o destaque que teve em outros anos. Em 21/22, foi eliminado logo na segunda rodada, para o Brommapojkarna, por 2 a 1. Na última temporada, o OFK conseguiu chegar até a fase de grupos. Ao lado de AIK, Vasteras e Varbergs, terminou na lanterna, com somente um ponto somado.

Veja o nosso vídeo relembrando um pouco da história do Ostersunds.

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