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Giuseppe Savoldi e a primeira transferência milionária da história do futebol

 

(Foto: LastSticker.com)

Nos últimos anos, o mercado de transferências anda cada vez mais maluco. Atletas com pouca bagagem, custando altos valores tem sido algo rotineiro entre os grandes clubes europeus. Mas quem foi o primeiro jogador que quebrou a banca e custou na casa do milhão na história do futebol? O nome dele é Giuseppe Savoldi. Para muitos, pode ser um nome desconhecido, mas ele foi um dos atacantes mais prolíferos de sua época no futebol italiano, tanto que ocupa o top 20 de maiores artilheiros da história do Cálcio até os dias de hoje.

Giuseppe “Beppe” Savoldi nasceu em 1947, na cidade de Gorlago, uma província de Bérgamo. Antes de se encontrar no futebol, praticou outros esportes, tendo destaque no basquete e salto em altura – provavelmente foi a graças a este esporte que Savoldi impressionava pela sua impulsão, mesmo tendo apenas 1,75m.

Sua carreira no futebol se deu início em 1965, aos 18 anos, pela Atalanta. Curiosamente, atuou como lateral-esquerdo sob o comando de Hector Puricelli. Logo em sua estreia, em jogo válido pela Copa Itália, marcou um gol diante do Vicenza e, na semana seguinte, fez o seu primeiro jogo na Série A, frente à Fiorentina.

No Campeonato Italiano, o primeiro gol demorou a sair, acontecendo apenas em 1966. Quando Stefano Angeleri tornou-se técnico da Atalanta, mudando Savoldi de posição, o tornando um atacante. Mesmo atuando em uma posição mais ofensiva, na temporada 66/67, terminou anotando somente sete gols. Uma transição que, inicialmente, não se mostrava bem sucedida.

Porém, a partir da 67/68, o potencial de Savoldi começou a aparecer. Foram 12 gols, mas a temporada da Atalanta foi frustrante, acabando somente na 13° posição. Quem aproveitou foi o Bologna, que negociou com a La Dea, mandando 175 milhões de liras, mais o atacante brasileiro Sergio Clerici em troca dos serviços de Beppe.

(Foto: Footballnews24)

Agora um nome mais renomado na terra da bota, o atacante marcou época com a camisa do Bologna. Foram sete temporadas, atuando em mais de 200 jogos, com 85 bolas nas redes. Viveu um dos melhores momentos da história do clube, conquistando a Copa Itália em duas ocasiões, além de terminar a temporada 72/73 como artilheiro do Calcio.

Uma história curiosa que marcou a carreira de Savoldi com o Bologna foi em uma partida diante do Ascoli. O atacante havia marcado dois gols, e quando anotou o hat-trick, o árbitro não viu que um gandula tirou a bola de dentro das redes e mandou o jogo seguir. Sem guardar rancor, disse que não ficou brabo, já que o gandula era apenas um garoto e ele tinha marcado dois gols no jogo.  Anos depois, ambos se encontraram em um programa da Domenica Sportiva e apertaram as mãos.

Ao final da temporada 74/75, Savoldi quis ir para uma nova aventura e pediu para deixar o Bolonha. Por ser um dos melhores atacantes da Série A, não faltaram interessados em seu futebol. Aos 28 anos, Juventus, Milan, Roma e Napoli eram os principais candidatos para o contratar. O presidente do Bolonha revelou que o jogador esteve muito próximo de ir para a Juventus. Inclusive, quando as duas equipes se enfrentaram pela Série A, ele falou para o atacante que estava prestes a jogar contra o seu futuro time. A negociação acabou melando às vésperas dos exames médicos.

Um telefonema de Francesco Janich, seu ex-colega no Bolonha e agora diretor no Napoli, perguntou a Beppe se ele não tinha interesse de vir jogar no clube. Sem nem pensar duas vezes, o atacante aceitou o convite.

(Foto: Guerin Sportivo) 

Nas últimas duas temporadas do campeonato, o Napoli havia brigado pelo Scudetto, mas não conseguiu o título. O time jogava no “futebol total”, idealizado por Johan Cruijff, algo que era totalmente novo na Itália, mas o ataque não tinha o rendimento condizente com o desempenho da equipe. O presidente do clube decidiu contratar o melhor atacante que havia no futebol italiano. Para contar com Savoldi, foram desembolsados 2 bilhões de liras (1,2 milhões de libras), um recorde no futebol mundial. O fato de ter sido o jogador mais caro da história, o fez ganhar o apelido de “Senhor 2 bilhões.”

As altas cifras envolvidas na transferência fez com que a mídia local criticasse o Napoli, dizendo que o clube estava mais preocupado com o futebol do que com a cólera – naquela época, a cidade estava sofrendo uma epidemia da doença. Até os fundos usados para a contratação de jogadores foi investigada pelo governo.

Independentemente das polêmicas, a contratação do atacante gerou grande expectativa nos torcedores napolitanos. Empolgados com a possibilidade de conquistar o Scudetto, foram vendidos 70.405 ingressos para a temporada, sendo o recorde da história do clube. Um detalhe curioso, é que esses números não foram batidos nem após a chegada de Diego Armando Maradona.

O início pelo Napoli não poderia ter sido melhor: sete gols nos primeiros sete jogos. A equipe estava no topo da tabela, mas Savoldi se lesionou em duelo contra a Roma, ficando mais de três semanas afastado. Ao final da temporada, o clube ficou apenas na quinta posição. O saldo só não foi tão negativo, já que conseguiu vencer a Copa Itália, com Savoldi marcando dois gols na decisão, diante do Verona. Em seu primeiro ano, o jogador anotou 21 gols.

Mas aquele Napoli competitivo de outrora, ficou no passado. Por mais que Savoldi tenha marcado 48 gols nas três temporadas seguintes, a equipe teve dois sextos lugares como melhor posição. Vale destacar que em 77/78, o atacante marcou 28 gols, sendo 12 deles na Copa Itália, um recorde na época, que viria a ser quebrado apenas no final da década de 1980. 

Um arrependido Savoldi admitiu que chegou tarde ao Napoli, que a melhor fase do clube já havia passado. Por mais que tenha conquistado a Copa Itália, seu objetivo era o Scudetto. Tudo o que ele tinha em mente, Maradona conseguiu construir anos depois.

Entrando em declínio e com 33 anos, o jogador retornou ao Bologna em 1979. Com a braçadeira de capitão, havia anotado 11 gols até ser envolvido em uma polêmica sobre manipulação de resultados. O escândalo chamado de Totonero rendeu uma série de suspensão a vários atletas, entre eles, estava Savoldi. Inicialmente, foi suspenso por três anos e anos e meio, porém, após uma apelação, a pena foi reduzida para dois anos e depois acabou sendo anistiado graças ao título da Itália na Copa de 82.

Aos 36 anos, em 1983, ainda pode voltar à Atalanta. Mas o hiato de dois anos cobrou seu preço. Mesmo jogando na segunda divisão, conseguiu disputar somente 16 jogos, anotando um tento.

Depois da aposentadoria, ainda teve uma breve carreira como treinador, passando por times das divisões inferiores da Itália. Seu principal trabalho foi sob o comando do Saronno, quando venceu os playoffs da Série D e conquistou o acesso à terceira divisão. Também fez sucesso no ramo musical, lançando um disco que vendeu cerca de 70 mil cópias.

(Foto: Tepasport)

Em sua carreira atuando na Série A, foram 168 gols em 405 partidas. Apesar de ter feitos grandes temporadas, com ótimos números, Savoldi disputou apenas quatro jogos com a seleção italiana e anotou um gol, em amistoso, contra a Grécia, em 1975, que terminou com a vitória da Azurra por 3 a 2 – inclusive, esta foi a última partida do atacante pelo seu país.

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