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Chelsea: um time sem comando e sem perspectiva de melhora [Opinião]

 

Em cinco jogos, Lampard tem cinco derrotas (Foto: Divulgação/Chelsea)

Em uma espiral totalmente negativa, com cinco derrotas nos últimos cinco jogos, incluindo uma eliminação na Liga dos Campeões para o Real Madrid, o Chelsea se encontra sem treinador, estacionado no meio da tabela da Premier League e, o pior, sem perspectivas de que o jogo possa virar em algum momento.  

É de conhecimento geral que Roman Abramovich precisou vender o Chelsea devido aos conflitos entre Ucrânia e Rússia. Quem aproveitou a oportunidade foi Todd Boehly, empresário americano que desembolsou 4,23 bilhões de libras para comprar os londrinos. Vale lembrar que o magnata é coproprietário do Los Angeles Lakers, da NBA, e Los Angeles Dodgers, da MLB. Ou seja, era um cara conhecido nos esportes americanos.   

Só que a coisa passou a desandar exatamente com a chegada dos novos proprietários. De maneira até surpreendente, o Chelsea havia conquistado a Liga dos Campeões em 20/21 e manteve a base do elenco, além de Thomas Tuchel no comando técnico.

Para a atual temporada, chegaram Aubameyang e Zakaria, pedidos do alemão, que foi demitido depois de sete jogos. Foram três vitórias, mas a demissão soou muito mais com Boehly querendo se impor, para não ter o técnico da gestão anterior no clube e querer dar a cara dele no time. Com isso, trouxe Graham Potter, pagando a multa rescisória de 10 milhões de euros para tira-lo do Brighton, o colocaria uma grande pressão, já que nunca havia treinado um clube grande e chegando em momento de reformulação de toda a direção. Somado a isso, tem o histórico do Chelsea que, normalmente não tem muita paciência com seus treinadores.

A aposta no promissor treinador era tão alta, que foi assinado um contrato de cinco anos – e contratos longos, serão uma das marcas da atual gestão. Lógico que quando se chega com a temporada em andamento, em um elenco que não foi montado por ele, talvez ficasse difícil de exigir resultados imediatos, mas o Chelsea que víamos em campo, era um time totalmente genérico, sem identidade nenhuma. De pontos positivos, podemos citar a campanha na Liga dos Campeões, em que, por exemplo, ganhou do Milan nos dois jogos da fase grupos e eliminou o Borussia Dortmund nas oitavas de final.

Só que o desempenho não convencia. Desde janeiro, o treinador estava na berlinda e no primeiro dia de abril, Potter foi demitido. Foram 31 jogos, tendo apenas 12 vitórias e um pífio aproveitamento de 39%.

No meio do caminho, ainda teve a janela de transferências, onde os Blues gastaram 611 milhões de euros, um recorde no futebol europeu. Por mais que tenham vindo alguns nomes mais experientes, como Aubameyang, Sterling e Koulibaly, o principal foco foi em jogadores jovens, e é onde os valores chamam a atenção. 65,3 milhões de euros por Cucurella, que é um bom ala, mas não é uma contratação que eleva o patamar de uma equipe. Mas, sem dúvidas, os valores que mais chamam a atenção tenham sido 11 milhões pelo EMPRÉSTIMO de João Félix e Mudryk, garoto ucraniano e que era o destaque do Shakhtar Donetsk, onde foi pago 70 milhões e mais 30 em variáveis, em um contrato de, pasmem, oito anos. Ainda teve Enzo Fernández, que veio por 121 milhões, mas o fato de ter sido um dos protagonistas da Argentina no título da Copa do Mundo e ser eleito o melhor jogador jovem do Mundial, explicam as altas cifras.

Voltando ao treinador, assim que Potter foi demitido, surgiram notícias de que o Chelsea teria interesse em Julian Nagelsmann, que havia deixado o Bayern de Munique. Diversos veículos noticiaram que havia grandes chances de um acerto, mas o próprio treinador decidiu não continuar com as entrevistas. Nomes como Luis Enrique e até Carlo Ancelotti foram especulados. De momento, Mauricio Pochettino é o mais próximo, onde se diz que há um acordo verbal entre as duas partes.

Por mais que o argentino seja um nome mais experiente, tendo um trabalho de longo prazo no Tottenham, quando esteve em um ambiente mais turbulento, como foi no PSG, ele foi simplesmente engolido. Com um elenco estrelado, como é o dos parisienses, perdeu uma Ligue 1 para o Lille, apesar de conquistado o título na temporada seguinte.

Kanté e Havertz lamentam. Uma cena comum (Foto: Divulgação/Chelsea)

O Chelsea precisa de alguém consolidado no mercado. Talvez Antônio Conte pudesse ser este nome, mas dado o histórico de comportamento explosivo do italiano, que quer fazer as coisas do jeito dele, dificilmente ele voltaria ao Stanford Bridge. E caso aceitasse, iria pedir demissão depois de uma semana ao perceber o caos que está dentro do clube.

Com especulações, mas sem nenhuma resposta, foi decidido trazer Frank Lampard novamente, mas agora como interino. Em sua primeira passagem, pouco fez e tendo como maior legado, usar jogadores da base, que é algo que o Chelsea nunca havia feito. Por lá, saíram nomes como Tomori, James, Mount e Abraham.

Nada contra em trazer um treinador interino e ter tempo de trazer o técnico certo para planejar a próxima temporada, mas Lampard, após sair do Chelsea, salvou o Everton do rebaixamento, só que vinha fazendo uma péssima temporada nos Toffes. Para se ter ideia, nos últimos 20 jogos, foram 11 derrotas e apenas quatro vitórias.  

Um time sério, não traria um nome com tal aproveitamento, nem que seja para quebrar galho por alguns jogos. Esta atitude mostra que os dirigentes não tem a menor ideia do que estão fazendo e querem apenas usar o nome de Lampard para se “blindar” das críticas. Afinal, o inglês é um dos maiores ídolos dos Blues e talvez a torcida pense duas vezes antes de criticar um ídolo.

E com Lampard, até o momento, foram cinco jogos, com cinco derrotas. Nas partidas, vemos um time inofensivo, que tem péssima pontaria e é completamente dominado por seus adversários. Contra o Brighton, vimos o perfeito exemplo de tudo que foi citado. As Gaivotas venceram por 2 a 1, mas finalizaram 26 vezes, contra apenas oito chutes do Chelsea, sendo só dois certos. Na última rodada, novamente em casa, perdeu para o Brentford. Os Blues chutaram mais: 15 vezes, mas só quatro no gol de David Raya, que não precisou fazer nenhuma grande defesa. 

Agora, independentemente de quem venha, enquanto o Chelsea estiver nesta bagunça, é muito difícil ter algum olhar otimista sobre o futuro dos londrinos. O próximo técnico precisará ser bancado e ter a confiança dos dirigentes. Em Londres mesmo, podem usar o Arsenal como exemplo, que bancou Arteta no momento difícil e agora os Gunners fazem grande campanha na Premier League. Mas percebemos que paciência talvez não seja um dos fortes de quem trabalha em Stanford Bridge. 

Estéfano Butzge

Jornalista formado na Universidade Católica de Pelotas. Colecionador de camisas de futebol, torcedor do Internacional, Nottingham Forest e da McLaren na Fórmula 1. twitter

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